Eu fugi daquele estúpido pesadelo com direito a ardência nos olhos e garota irritante por volta das quatro da tarde, horário que alguns relógios na cidade marcavam – em pouco tempo estaria anoitecendo.
Esfreguei as mãos em meus olhos a fim de me livrar do desconforto ainda presente, e dei uma rápida olhada no local. Eu sabia onde estava: foi o último lugar que havia encontrado na minha caminhada sem fim. Sabia que em Lunaria as pessoas não seriam muito receptivas caso descobrissem minha raça, mas agir naturalmente foi o que decidi fazer.
Peguei minhas coisas e começei a andar pela praça, observando tudo que me rodeava, vez ou outra parando em alguma vitrine de loja para admirar algo e saindo logo em seguida, caso avistasse algum vendedor. Então começei a me aproximar dos guardas perto do quartel, em busca de informações.
Enquanto isso, Lizzy rodeava seu amigo de maneira agitada e alegre, sem parar quieta. A luz azul sobrevoava acima da cabeça de Alex, fazendo movimentos circulares, vez ou outra desenhando o “8” com o movimento do corpo.
- Ai! Ai ai ai! Que garota chata!! Você viu?
Pelo menos seus olhos melhoraram, fiquei preocupada. E hoje parece que o dia vai ser interessante, isto é, se você ao menos não ficar apenas andando por aí .
Ei! Você tá me ouvindo??
Lizzy se posiciona bem na frente do rosto de Alexander e fica investindo contra ele.
- Aí gatinho, já to cansada de você me ignorando! Brincamos desse negócio de vaca amarela na panela já faz uns 2 anos e tá perdendo a graça! Já falei que eu perdi mas também não vou comer a bosta da vaca, então tem como você falar comigo? RESPONDE DIMONHO!! TT3TT
“Entenderam? Se vocês não conseguirem fazer isso, eu vou matar vocês.”
Pff… mas quanta ousadia. Quem aquela garota (ou voz de garota) pensa que é? Das duas uma: ou eu tive um sonho aleatório com uma voz que já ouvi antes, ou alguém tá passando trote por telepatia, só pode. Não é nada que eu tenha vontade de me preocupar…
Distraído com meus pensamentos, não vi quando cheguei no quartel e quase ia esbarrando num guarda. Dei um passo para trás e acenei, a fim de cumprimentar.
- Fala minha língua, senhor?
Sério como sempre sou, falei vagarosamente, e gesticulei com as mãos e braços, tentando traduzir corporalmente o que havia dito. Era a primeira coisa que precisava saber para depois buscar informações mais concretas. Numa cidade cheia de diversidade, não posso esperar que todos falem a mesma língua que eu, e posso parecer até ofensivo. Então prefiro parecer esquisito do que arriscar parecer desrespeitoso e chato.
OFF:
Todas as falas em itálico serão referentes à Lizzy, e em terceira pessoa.